Mercado
Aqui, por um processo que não se confunde com magia, estamos entre a cidade e o campo, em lugar nenhum, talvez o lugar da troca, o lugar onde uma coisa se transforma noutra, um lugar de metáfora, em que uma moeda quer dizer uma maçã.
Quantas moedas querem dizer um peixe ou pedaço de carne?
Respondem-nos os magos tradutores de natureza em moeda corrente.
O mercado não pertence ao mundo, não chega a ser um lugar: é uma passagem, um gesto, um movimento. Uma morada que é uma transição.
Aqui, onde nada significa o que é mas aquilo que pode ser, a quanto tempo estamos da terra?
Aqui, onde estamos mais próximos do campo, se vimos da cidade; mais próximos da cidade, se vimos do campo. E que por isso é uma oportunidade em dois sentidos. Um atalho em dois sentidos.
A quanto tempo estamos da terra que passa da mão que a trabalha para a mão que a pensa?
A mão que poda e a mão que pode.
Lugar que quando apurado, quando transformado na sua versão super, é cada vez menos parte do mundo, cada vez mais parte de uma passagem. De uma transição. Onde as mãos já não têm memória da terra. Onde a árvore é uma ideia longínqua. Onde o pasto é uma miragem. Onde o atalho é entre distâncias maiores.
Quando apurado, neste lugar as palavras perdem a sua origem. A maçã é a sua superfície.
Quando apurado, estamos tão longe da terra que nos esquecemos de que existe.
A quanto tempo estamos?
Da terra.
A troca.
A mão.
A moeda.
Criações Gráficas
Memória Descritiva de Zé Tavares
Património e arte pública.
Património vs. Matrimónio.
Pater. Pai. Herança. vs. Casamento.
Um retrato do homem incompleto na sombra e no que já não se vê pela passagem do tempo, e dos seus vários detalhes invisíveis.
Esta sequência que pode ser lida do retrato para os detalhes ou no sentido contrário, dos detalhes para o retrato.
Retrato. A chave. A pedra [1]. A jóia [2] com pedras preciosas. O tempo. A caixa que guarda e é guardada.
Digitalmente desenhados e aplicados na rua como stickers, serão as heranças sempre falsas, como muitas outras.
[1] do rim
[2] herdada