Melancolia

Texto: Emília Ferreira

Criações Gráficas: Rosário Pinheiro

A melancolia, também conhecida como a bílis negra (tradução literal da sua raiz grega), tem sofrido de suspeição. Historicamente tem sido olhada com desconfiança, pelo lado obscuro e negativo que, potencialmente, nos arrasta para o abismo. Talvez por ser confundida com a nostalgia (novamente do grego, palavra que vagueia por um território que significa o regresso a algo indefinido, como dor ou sofrimento). É possível, na verdade, que tenha a ver com a vontade de regressar a um passado inatingível (todo o passado, tal como o futuro, é inatingível) e de essa impossibilidade nos causar tristeza.

Mas a melancolia, como cada um de nós, tem muitas faces. Pessoalmente, sempre me interessou como ponto de partida para um olhar lento, demorado, profundo e ponderado, sobre o real. 

Tenho uma relação de demora com as palavras. Gosto de as dizer baixinho, como se estivesse à escuta da sua rumoração íntima, como se, pela porta aberta pelo silêncio, a palavra se sentisse à vontade para se me revelar. E melancolia tem, para mim, um rumor a quietude.

O seu som aquoso (as palavras têm um som, antes de terem um desenho, uma escrita) sempre me convidou a vogar com ela como uma maré, a embalar o tempo e a imaginação. Associo, por isso, a melancolia ao processo de atenção ao real e ao que esse real potencia os processos cognitivos e criativos. 

Que tem a melancolia a ver com o espaço público? O facto de nada nascer do nada e de todo o conhecimento radicar na relação. 

Criações Gráficas

Memória Descritiva de Rosário Pinheiro

Três ilustrações digitais, onde procuro a relação da representação da figura humana com formas arquitetónicas fora do seu contexto natural. Usando o branco como espaço negativo e contendo a ação ou a cor aos espaços que estariam na realidade vazios.

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