Praça
Esta suspensão. Este fosso. Esta forma de vazio na construção. Esta interrupção de prédios. Este ponto de fuga, o que é? Com todas as janelas voltadas para dentro, todas as arcadas voltadas para o centro, com o sol do meio dia no centro, com os sons a regressar ao centro por um jogo de reflexos sem fuga possível.
Aqui, podemos levantar a cara e falar, e só então se perdem as palavras, se estas forem, como indicam os especialistas imunes ao efeito da gravidade. Crença a que associo já a minha voz cética de enciclopédia.

De resto, tudo passa pelo centro deste lugar. As ruas e a sua gente, os seus negócios, o seu rumor, tudo isto desemboca neste lugar. E por isso, este é um lugar onde mesmo que não queiramos acabamos por vir dar. Um lugar com o seu próprio efeito de atracão nas pessoas e nas palavras. Tudo o que existe há de passar por um lugar assim, mesmo que seja para não se demorar. Como em redemoinhos num rio.
Uma praça é como uma destas espirais de água, que nos atraem e deixam seguir.

Outros poderão dizer que se trata de um lugar de associação. Um lugar onde nos cruzamos e associamos àqueles com quem fazemos a nossa vida. E que, como lugar de associação, é um lugar onde o contraditório se cruza, a morada de tudo o que é diverso e multifacetado. Um cruzamento transformador.
Este lugar para que serve senão para receber o que resulta das ruas que aqui desembocam? Uma depressão no terreno para onde escorrem os dias, as gentes, e a matemática que destes dois elementos resulta.

A praça é um lugar de revelação, onde a cidade se repete numa arquitetura feita de corpos humanos e sua relação. Tudo o que existe vem dar aqui; para saber como se chama a cidade, de que é feita, que grupos a constituem, que relações a compõem, põe a cidade na praça e olha.

Criações Gráficas
Memória Descritiva de Zé Tavares
Património e arte pública.
Património vs. Matrimónio.
Pater. Pai. Herança. vs. Casamento.
Um retrato do homem incompleto na sombra e no que já não se vê pela passagem do tempo, e dos seus vários detalhes invisíveis.
Esta sequência que pode ser lida do retrato para os detalhes ou no sentido contrário, dos detalhes para o retrato.
Retrato. A chave. A pedra [1]. A jóia [2] com pedras preciosas. O tempo. A caixa que guarda e é guardada.
Digitalmente desenhados e aplicados na rua como stickers, serão as heranças sempre falsas, como muitas outras.
[1] do rim
[2] herdada