Texto: Emília Ferreira

Criações Gráficas: Mónica Santos

Associamos a aventura a partir para lugares remotos, sem cartas de marear, sem instrumentos de navegação. Mas a abertura de um livro ou de uma porta para a rua pode ser uma aventura. A aventura tem esse lado de assunção de um risco, de ultrapassar os limites impostos socialmente. 

O espaço público sempre esteve (e continua) associado ao poder social e político. Por político entenda-se o que é da polis, da cidade, da decisão.

Portanto, o espaço público é daqueles que têm voz e direito à memória. Veja-se como a história (o registo da memória colectiva) tem sido o registo de algumas visões do mundo e de alguns agentes, apagando outros e, em particular, outras. 

Por isso, a aventura pode ser algo aparentemente simples. Entrar num café foi, durante décadas, um desafio para as mulheres, que não eram bem vistas se o fizessem, em especial se estivessem sozinhas.

Mas quem diz café diz escolas, bibliotecas, museus, mesas de voto, ruas, comboios, o acto de conduzir um carro, de andar de bicicleta, de seguir uma profissão, de ir para a escola ou para a universidade, de nos vestirmos como queremos, de mudar de país, de andar com o cabelo ao vento; numa palavra de decidir sobre a nossa vida.

A aventura é, por isso, tudo o que fazemos para rasgar convenções limitadoras dos nossos sonhos e direitos. Dar a mão, em público, ao objecto do nosso afecto. Ler os livros que nos apetece ler. Permitir-nos a curiosidade e avançar por ela como por uma estrada nova. Sem medo. Ou, mesmo sentindo-o, avançar pela vida, contra ventos e marés.

Criações Gráficas

Memória Descritiva de Mónica Santos

Três ilustrações digitais, onde procuro a relação da representação da figura humana com formas arquitetónicas fora do seu contexto natural. Usando o branco como espaço negativo e contendo a ação ou a cor aos espaços que estariam na realidade vazios.

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